Homem prometia facilidade para a emissão de CNH e financiamentos.
Suspeito responde por 12 inquéritos de estelionado e falsidade ideológica.
Mostrando como agia o estelionatário indiciado ontem em Mogi das Cruzes. Os depoimentos e as conversas gravadas pelas próprias vítimas revelam que ele se passava por autoridades, e prometia todo tipo de ajuda.Cobrava por isso, e deixava e as pessoas no prejuízo. O suspeito preso na quinta-feira(13) reponde 12 inquéritos policiais em três das quatro delegacias de Mogi das Cruzes.
O advogado Marco Alckmin representa quatro vítimas, e explica como o golpista se aproxima das pessoas. “Ele é oportunista. Observa o que a pessoa precisa no momento e, a partir disso, demonstra ter conhecimento naquela área. Então ele oferta o que a pessoa precisa, com valores mais baixos e facilidade de acesso”, disse.
Para uma das vítimas, ele encaminhou fotos das aulas de direção e mandou mensagens de voz. O suspeito de passava por avaliador das provas práticas do Detran:
Golpista: Você acredita que tinha 232 alunos para fazer a prova hoje. Dos 232, 107 já foi reprovados. Daqui a pouquinho eu vou mandar uma ‘fotinho’ pra você da menina tentando fazer baliza e eu do lado de fora só observando pra meter a caneta [sic].
Dessa forma ele ganhava a confiança das vítimas. Uma delas pagou R$ 2.600 em dinheiro com a promessa de que seria matriculada em uma escola. Mas quando chegou ao Centro de Formação de Condutores (CFC), a surpresa. “O moço procurou meu cadastro na autoescola no qual o golpista falou pra mim que era sócio e onde eu estaria matriculada. Foi aí que ele pesquisou pra mim que eu não estava cadastrada na autoescola”, disse a vítima que pediu para não ser identificada.
O golpista justificou por telefone:
Golpista: Aqueles dois ‘teórico’ que ficou, fica no sistema Detran, se você repete, por exemplo, não precisa pagar os exames. Então fica um crédito no Detran pra você, por exemplo, entendeu? Se tomar multa um dia qualquer coisa está aquele desconto lá no seu CPF [sic]
O Detran não oferece nenhuma espécie de crédito para pagar multas ou obter descontos na emissão de carteiras de habilitação. O suspeito dava outros tipos de golpes. Só em Mogi das Cruzes convenceu outras quatro pessoas a comprar carros com a promessa de juros baixos e prestações mais baratas. Ele dizia que era amigo de donos de lojas de revenda de carros novos e usados.
Uma das vítimas entregou na mão do estelionatário o carro e moto para que ele levasse como parte do pagamento de um veículo que havia sido ofertado por R$ 32 mil. No contrato que a vítima assinou, o valor ficou muito acima disso: 48 parcelas de R$ 1.004,00.
“Ele falou que tinha que entregar um contrato rápido, era pra eu assinar rapidinho. Eu perguntei pra ele se eu precisava ler, ele falou que não, que estava tudo certo, você é meu amigo. Ai eu fui e assinei”.
Por telefone ele se aproveita da falta de conhecimento da vítima e orienta o pagamento das últimas parcelas, mesmo todas elas sendo iguais:
Golpista: Quando você for pagar no outro mês de novo, vai pagar a 47ª porque a segunda já não vai ter mais. Quando for pagar a do outro mês, vai pedir a 46ª porque a terceira já não vai ter mais.
Vítima: E como não vai ter mais a terceira?
Golpista: Porque sai nos juros abusivos, filho. Isso que eu estou explicando pra você.
A vítima conta ainda que o suspeito não entregou o carro usado dela como parte do pagamento. Ele mesmo afirmou por telefone, que estava com o veículo:
Vítima: Onde você deixou a moto?
Golpista: Lá na loja.
Vítima: Onde você deixou o carro?
Golpista: O carro? Na oficina.
Em 2011 ele foi condenado pelo crime de apropriação indébita contra uma empresa de segurança de Mogi das Cruzes. Ele recorre em liberdade. A polícia investiga o homem desde 2006, mas, em todos esses anos, só passou um dia preso. “Muito embora não sejam crimes praticados com violência contra a pessoa, são crimes que tem enriquecido obtendo vantagens indevidas, aplicando golpes”, disse o delegado Argentino Coqueiro.
Na quinta-feira (13), o homem foi indiciado por mais dois golpes. A polícia também pediu bloqueio de três carros e uma moto que foram negociados por ele. “O objetivo é evitar que estes bens sejam alienados, transferidos. Por isso foi feito o bloqueio para evitar que estes bens sejam transferidos”, detalhou o delegado.
“Eu tinha um carro e uma moto, no valor de R$ 24 mil. Hoje em dia eu não tenho carro, estou com uma dívida de R$ 48 mil, com o nome no SCPC e não tenho como saldar a dívida”.
Segundo o delegado, estelionato, é um crime que prevê uma detenção de no máximo 5 anos de prisão. Nestes casos, a lei permite que a pena seja trocada por pagamento de multas ou serviços à comunidade, mesmo que o prejuízo financeiro às vítimas seja grande. Isso acontece porque o nosso Código Penal prioriza penas maiores apenas para os crimes com ameaça à vida das vítimas, e até então não é o caso dos dois crimes que o suspeito responde, o de estelionato e falsidade ideológica.
A polícia recebeu nos últimos dias informações de que o suspeito teria ameaçado uma das vítimas, se isso se confirmar as chances de ele ser preso aumentam. A apresentação dele na quinta para prestar o depoimento não foi obrigatória. Os investigadores foram buscá-lo para comparecer à delegacia e ele aceitou, mas ele se reservou ao direito de falar apenas em juízo.
O suspeito esteve na delegacia sem advogado e informalmente para os investigadores que o trouxeram, ele disse que tem um trabalho, que é pintor, que estava tranquilo quanto às investigações e negou que tivesse enganado qualquer uma destas pessoas. O delegado Argentino Coqueiro disse ainda que, nos próximos dias a polícia vai fazer novas diligências para juntar mais provas ao inquérito e nas próximas semanas deve ser pedida a prisão preventiva do golpista.